quinta-feira, 29 de março de 2018

O Candomblé e o sincretismo de hoje! (II)

Significado da Páscoa varia para as religiões
Evangélicos, espíritas, umbandistas, adeptos do candomblé, wiccanos e espiritualistas possuem sua forma própria de recordar o sacrifício, morte e ressurreição de Cristo.

Fonte: sxc.hu
Depois de 40 dias voltados à reflexão, católicos de todo mundo estão prontos para a Semana Santa. No período da Quaresma, os religiosos mais fervorosos optam pelo jejum e pela oração intensa para perdão dos pecados. Entretanto, a comemoração da Semana Santa não é semelhante em todas as religiões. Evangélicos, espíritas, umbandistas, adeptos do candomblé, wiccanos e espiritualistas possuem sua forma própria de recordar o sacrifício, morte e ressurreição de Cristo na cruz.
Pela tradição católica, a Quaresma é o período mais importante do Cristianismo e, portanto deve ser vivido com fé, através da penitência e da conversão verdadeira, segundo o padre Jerônimo Peixoto, pároco da Catedral Metropolitana de Aracaju. “A Semana Santa é uma oportunidade dos católicos se aproximarem mais de Deus”, ressalta. Sendo assim, o bom católico deve começar sua preparação já na Quarta-Feira de Cinzas após o Carnaval, quando a Quaresma é iniciada. Depois disso, ele deve permanecer os 40 dias da Quaresma participando das missas e trabalhos da igreja.
Padre Jerônimo: "oportunidade dos católicos se aproximarem de Deus"
Com a chegada da Semana Santa, os católicos não comem carne na Sexta-Feira Santa, como ato penitencial e como forma de recordar a crucificação de Cristo na cruz. A maioria opta por se alimentar com peixe. No Sábado de Aleluia, um dia antes da Páscoa, a missa é realizada sem a celebração da Eucaristia, como também ocorre na sexta. Chegado o domingo de Páscoa, os católicos celebram a ressurreição de Cristo.

Evangélicos
Para os cristãos protestantes, a comemoração não requer tanta preparação como para os católicos. Eles também realizam cultos em memória do sacrifício de Jesus. “Entretanto, existe um diferencial, pois recordamos a morte e ressurreição de Cristo, mas com a esperança de seu retorno”, explica o pastor Odailson Fonseca. Pela teologia evangélica, Jesus Cristo prometeu voltar ao mundo para buscar seus seguidores e isso pode ocorrer a qualquer momento. E essa tem sido a tônica dos ensinamentos durante esta semana.
Pastor Ivan:"objetivo é alcançar o coração das pessoas"
A Igreja Adventista do 7º Dia de Aracaju está realizando cultos especiais em comemoração ao período desde o último sábado. A programação, transmitida para várias partes do mundo e para 180 cidades brasileiras, através de uma emissora de TV, está sendo exibida em 5 mil igrejas adventistas, via satélite. “O nosso objetivo é alcançar o maior número de pessoas através dos ensinamentos bíblicos”, esclarece Ivan Saraiva, pastor responsável por pregar durante os dias do evento.
Além disso, a Igreja do Evangelho Quadrangular realiza na sexta-feira, mais uma edição do Sermão do Monte, evento que acontece todos os anos no Parque da Sementeira. Encenação da Paixão e Morte de Cristo e shows com as cantoras Nívea Soares e Shirley Carvalhaes são algumas das atrações do evento.

Espíritas
“Temos Jesus como modelo e guia, mas não comemoramos a Páscoa”, explica o presidente da Federação Espírita de Sergipe, Júlio Cesar. Segundo ele, “para os espíritas, a comemoração de datas como o Natal e a Páscoa devem ocorrer diariamente e não em épocas específicas”.
Angélica: "celebramos a Oxalá"

Candomblé e Umbanda
Sendo religiões de origem africana, na essência, o Candomblé e a Umbanda não comemoram a Semana Santa. “Mas em decorrência da interferência cristã nessas duas religiões, nós passamos a respeitar alguns pontos”, informa a dirigente espiritual da Casa de Caridade Navegantes de Oxalá, Angélica Valadão.
Segundo ela, muitos terreiros e centros deixam de funcionar durante a Semana Santa e reabrem no Sábado de Aleluia, quando realizam cerimônias espirituais, como forma de celebrar a Jesus Cristo, que na Umbanda e no Candomblé é o orixá Oxalá.

Wicca
Neuma: "realizamos rituais de comunhão"
Até mesmo os wiccanos realizam rituais no período da Semana Santa. Entretanto, esta não é uma realidade para todos. “Os wiccanos mais ortodoxos não realizam qualquer celebração relacionada à Páscoa”, explica a espiritualista Neuma Nogueira.
Ela, que segue uma linha mais contemporânea, esclarece que alguns rituais de celebração voltados para a comunhão, agradecimento e comunicação com entidades são realizados, mas eles seguem um calendário diferenciado. “Festejamos o Ano Novo Celta, também chamado de Noite dos Antepassados, no dia 30 de abril, depois de uma longa preparação que se inicia com um mês de antecedência”, informa Neuma Nogueira.

O Candomblé e o sincretismo de hoje!

A Quaresma e a Semana Santa no Candomblé


Muito antes do Advento de Jesus de Nazaré, o povo africano já respeitava a Quaresma, porém com um significado totalmente diferente do Cristianismo. Enquanto estes celebram a morte e a ressurreição de Cristo, os africâneres param suas funções e celebram o Olorogún, período em que os Orixás e Voduns entram em guerra contra o mal, para trazer o pão de cada dia para seus filhos. Há Ìtáns (contos), que nos revelam essa forma diferenciada na África.

Na quarta-feira de cinzas, todos os Orixás da casa devem ser vestidos e cada filho oferece a eles, suas comidas preferidas, os atabaques são recolhidos, depois de serem lavados com ervas, somente sendo acordados no Sábado de Aleluia. Sendo a forma de fortalecer (energizar) os Atabaques da casa.

No Sábado de Aleluia, Ogun, guerreiro maior do panteão africano, faz a distribuição dos pães, representando a vitória na guerra pela paz de sua tribo, bem como as dos demais Orixás.

No Candomblé, a Semana Santa representa a Criação do Mundo, por este motivo, neste período, seus seguidores devem vestir-se de branco, principalmente na sexta-feira, por ser este o dia em que os Orixás descem do Orún par conhecerem a grande criação de Olorun, executada por Oduduwa.

Na noite de quinta para sexta-feira os seguidores do Candomblé devem se proteger, usando seus contra-eguns, pois nesse dia Óyáà (yansã, deusa dos ventos), está em guerra e não pode conter os eguns (espírito dos mortos), que nos rondam. Da mesma forma devemos nos alimentar com comidas brancas, tais como canjica, arroz, arroz doce, acaçás e pães.

Devemos também oferecer esses pratos a Oxalá, em busca de paz e prosperidade.
Essas informações, se devem em função do sincretismo afro-religioso existente desde a escravatura e migração dos negros africanos para o Brasil. Porém, em África na época em questão, nunca houve essa ligação Católica, por não se cultuar o cristianismo e sim, a louvação tão somente ao Panteão dos Orixás.